domingo, 23 de maio de 2010

Bom dia, o serviço que você presta será migrado para o outro lado do mundo. Beijo me liga!

Imagino que foi mais ou menos com essa frieza que o time da migração alemã lá do Shell Business Center Services (SBSC) recebeu essa notícia na semana que passou.

Devo ter comentado aqui que, neste Centro da Shell em que eu trabalho, são prestados serviços financeiros e de atendimento ao consumidor para mais de dez países, a maioria deles, europeus (a migração brasileira é exceção). Assim como o Centro de Cracóvia, a Shell possui outros quatro Centros que prestam estes serviços a outros mercados: Glasgow (Escócia), Cidade do Cabo (África do Sul), Chennai (Índia) e Manila (Filipinas).

O time que presta serviços ao mercado alemão é um dos maiores do Centro, senão o maior, afinal, um mercado consumidor gigante (para os padrões europeus) e sobretudo, rico, como o alemão, demanda muita mão de obra. São mais de setenta pessoas (entre alemães, austríacos e poloneses que falam alemão) trabalhando nesta área.

Na nossa reunião semanal de time, o Michal (nosso chefe) costuma nos passar updates sobre o que tá rolando na empresa e uma das novidades foi essa. Segundo ele, alguma instância superior lá fez um estudo e concluiu que no longo prazo seria mais barato ter as operações do mercado alemão operando no centro de Manila, não mais em Cracóvia. Pronto, em pouco tempo, tudo será migrado pra lá e mais de setenta empregos aqui vão sumir, póf!

Todo mundo na reunião ficou meio apreensivo, se olhando, até que o Pedrão perguntou: "tá mas, o que nós temos a ver com isso?", já imaginando que nós poderíamos ser a próxima bola de vez. "Na verdade, nada, é mais para conhecimento mesmo", respondeu o Michal. Diz ele que nós não precisamos nos preocupar (tanto) pois a nossa migração tem um fator que de certa forma nos protege deste tipo de manobra: a língua. Segundo ele, é mais fácil encontrar pessoas que falem alemão do que português...gente falando alemão, nas Filipinas, ainda por cima com um grau de fluência que permita negociações por telefone? Eu hein, sei lá em que o "Sr. Instância Superior" se baseou pra concluir isso, mas que me parece meio improvável, parece.

Mais ou menos assim que funciona, heheh...


Tudo isso depois de a empresa ter investido sei lá quanto milhares de euros para migrar o serviço pra cá e ter investido em cursos intensivos de alemão para os poloneses que terminou mês passado (sim, a empresa passou dois meses pagando salário para que as pessoas passassem a semana inteira só estudando). Agora, toda a ala da migração alemã (que fica ao lado da nossa) simplesmente vai ficar vazia, até que um outro Sr. Instância Superior qualquer faça algum estudo e conclua que é mais barato migrar os serviços de algum outro lugar para Cracóvia (parece que a bola da vez é o centro de Glasgow, que é o mais caro dos cinco).

Isso me faz lembrar aquele filme, "Outsourced" ("Terceirizado", em tradução livre) que conta a história do choque cultural vivido por um americano ao ter que treinar funcionários na Índia após os serviços da empresa onde ele trabalha terem sido migrados pra lá, muito bom o filme, recomendo! Tá aqui a sinopse e o trailer!

Ééé, como já diria a música: "homem primata, capitalismo selvagem...uuôô ô!".

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Its name is Buda, Budapest.

Budapeste (BP) é uma cidade que se pode definir bem em uma palavra: mágica! Ou magia ou qualquer outro adjetivo nessa linha.

Mesmo com um clima que muito me lembrava o bom e velho litoral gaúcho nos seus piores dias de ressaca (ventania, frio, chuva, etc.) eu e o Guto (amigo de Porto Alegre que tá fazendo intercâmbio lá) não nos michamos e batemos bastante perna pela cidade. Antes, a (já ficando) tradicional aulinha de Geografia:

País: Hungria (Magyarország...IMPRONUNCIÁVEL!!!)
Localização: Europa Central.
Língua: Húngaro (oficial).
População: 10.064.000 habitantes.
Capital: Budapeste (1.712.710 habitantes).
PIB: US$ 208 bilhões (79º do mundo).
Entrada na União Européia: 1º de maio de 2004.
Moeda: Forint (100 Forints = R$ 1,00).
Distância de Cracóvia: 394 Km.

Saí de Cracóvia às 22h30 de sexta, chegando em BP às 4h15 do dia seguinte, quase 2h antes do previsto! Liguei pro Guto (que deve ter caído da cama de susto com a minha ligação, hehehe) e ele foi me buscar na rodoviária. Fomos pra casa, demos uma descansada e saímos andando pela city.

Budapeste surgiu da união de duas cidades (adivinhem quais?? Rá!!) e é cortada pelo Rio Danúbio...pra um turista como eu, o fato da cidade ser dividida em duas ficava bem marcado, já pro Guto que é "nativo", essa diferença quase nem se faz perceber mais. Buda é o lado da cidade mais calmo, residencial etc. Já Peste é onde praticamente toda vida social, econômica e política da cidade acontece.

Drops:

Magia: BP tem um ar meio mágico, sei lá, é difícil descrever! A cidade é uma mistura de estilos, se vê de quase tudo, desde edfícios góticos (como o Parlamento, que é aaabsolutamentchh fantáástico) até prédios mais modernos, passando por vários outros estilos (que, lógico, não sei dizer quais são, não sou muito entendido de arte, heheh...). Mas uma coisa que me marcou foi a vista noturna da cidade do alto de uma das colinas de Buda ("Cittadella", como é conhecida): é simplesmente sensacional, lindo de mais! Os prédios históricos todos iluminados, as pontes que cortam o rio idem, as luzes refletindo no rio...bah, sem palavras! Só me lembro de uma sensação assim no Rio, no Corcovado.


É impossível não estabelecer uma comparação com Viena (mesmo que as duas cidades sejam bem diferentes) já que ambas faziam parte do mesmo império (Áustro-Húngaro) e eram suas principais cidades. Eu diria o seguintchh: Viena é uma cidade para se morar, BP, é uma cidade para se estar! Mas uma coisa é fato: a orla do Danúbio em BP é mil vezes mais bonita do que em Viena, muito mais bem aproveitada! Talvez pelo fato de que, em BP, o rio corta a cidade e, em Viena, ela praticamente a circula, não fazendo parte da vida local tão intesamente.


Povo: fiquei dois dias e meio lá e não consegui estabelecer um padrão pras pessoas. Tipo, aqui na Polônia é relativamente simples, a maioria tem pele clara, rostos afilados e angulosos, cabelos em tons claros (castanhos ou loiros) e olhos idem. Lá, não tem um padrão, se vê húngaros loiros com olhos azuis, morenos com olhos claros e escuros, ruivos e ainda os ciganos (a Hungria é um dos países com a maior população cigana do mundo). Enfim, a diversidade de rostos e tons me lembrou, até certo ponto, o nosso Brasil varonil.

Língua húngara: sério, vou parar de reclamar (um pouco) do polonês...húngaro consegue ser pior, hahahah! Tava lendo que, parece que depois do chinês e sei lá qual outra língua, o húngaro figura como uma das mais difíceis de se aprender. Tem uma raíz distante com o finlandês, mas só. Até palavras que seguem uma certa estrutura em boa parte das línguas como "Polícia" (Polizia, Police, Polizei, Policja...) em húngaro é...Rendorseg. RENDORSEG!!!! HAHAHAH, de onde saiu isso???


Burger King: é o prato mais típico de BP, hehehe! Sério, eu nunca vi tantos Burger Kings em uma só cidade, é impressionante! Às vezes, chega a ter dois num raio de 1 Km (tá, não medi o raio, mas enfim, é muito perto um do outro)! E uma coisa que o Guto me chamou a atenção: onde tem um Burger King, tem sempre (eu disse SEMPRE) um Mc Donald's ao lado, em frente ou então muito próximo, fato!

Forint (HUF): a moeda húngara me fez voltar aos tempos do Cruzeiro, com seus zeros à direita do número! Mas o interessante é que, se você corta os dois últimos zeros de um valor qualquer, o valor fica igualzinho ao valor em reais, por exemplo: 1000 HUF = R$ 10,00. 150.000 HUF = 1.500,00. Simples assim, legal né? Dica: se você for à Hungria e te derem uma nota de 200 HUF (R$ 2,00), NÃO ACEITE!!! Essa nota não circula mais, não é mais válida...e adivinha se eu não recebi uma de troco? hehehe, ééé, Sofrenildo! Pelo menos ficou de souvenir...

Bueno, já disse isso mas vale enfatizar: valeu muito a pena! BP é um destino obrigatório pra quem vem à Europa. E quando se tem um guia local ainda, muito melhor, valeu pela parceria Gutão, na chuva, no vento, no frio, encarando a indiada na de frente, heheh!

Fotos da viagem aqui!

Mudando de assunto, olha que legaaal a matéria que saiu no Jornal do Comércio do dia 17/5!! Valeu Lu, ficou show! =)

Frase topeira nível da semana: Nazywam się Vinicius. (nazívan shéun Vinicius = meu nome é Vinicius). Sério? ¬¬


quinta-feira, 13 de maio de 2010

A diferença é que tem diferença

Quase duas semanas sem postar, sinal dos tempos. Embora as rotinas do trabalho não sejam mais um desafio diário a ser superado, agora que já estamos trabalhando praticamente sozinhos, sem ajuda dos nossos trainners, parece que o dia ficou curto e o trabalho aumentou (e pasmem, não aumentou), as semanas voam, o trabalho entope nossas caixas de e-mail e a vontade de sentar a bunda pra escever no blog tem que ser gerada em chocadeira, hehehe...fim de semana? Gimme a break!

Intercâmbio é uma coisa deveras interessante, pois ele é uma experiência que trabalha com uma criatura, e a critura no caso é...VOCÊ! \O/ Assim sendo, é tri ir observando as mudanças que vão acontecendo com a criatura (no caso, eu) com o passar do tempo.

No caminho de completar quatro meses de Polônia, já observo que venho incorporando alguns hábitos locais (não tão bons, às vezes) de uma forma bem natural até, por exemplo:

Comida: tava comentando no almoço esses dias, nas primeiras semanas aqui, eu dizia que "nunca ia me adaptar a essa comida sem graça, que saudade de uma carne de verdade e blá"...hoje, penso: e não é que a comida até é boa? Tudo uma questão de adaptação mesmo, ao tempero e ao modo de preparo...o maior exemplo é a carne de porco: meo, é impressionante como eles preparam porco de formas diferentes aqui, ao ponto de nem parecer que se está comendo porco (eu lembro que, no Brasil, a carne de porco tinha um gosto tão de...porco! HAHAHAH, parece idiota, mas tem fundamento, acreditem!);

Andar depressa e empurrar: putaquepariu, polonês é muito apressado, os caras tão sempre correndo na rua! E não são poucas as vezes que eles simplesmente te empurram, no ônibus, no corredor, enfim. Mas sabe quando tu vê que aquilo não é feito por mal ou pra sacanear? Pois é, dá pra ver que isso é deles mesmo, assim como brasileiro , em geral, gosta de contato físico! Tanto faz sentido que, se tu esbarra numa pessoa, muitas vezes ela nem dá bola, continua andando como se nada fosse. Tenho aprendido bem essa lição do empurra, especialmente contra as Velhas-Urso dos ônibus, hahahah!

Parar pra atravessar a rua: no Centro, sempre. Em locais menos movimentados, quase sempre. É bom, além de fazer as coisas como têm que ser, o cara ainda diminui o risco de levar uma multa (50 PLN, aprox. R$ 30,00) e você ainda leva inteiramente de GRAÇA um belo exercício de paciência e auto-controle, hã! ¬¬

Enfim, a medida que as semanas passam, as coisas vão ficando mais normais. Lógico, elas nunca parecerão 100% normais, essa é a sina do forasteiro, mas acho que nem é a idéia mesmo. Dia desses, tava sem nada pra fazer na minha uma hora de plantão pós-expediente e liguei pro CL (CL = Comitê Local) da AIESEC Porto Alegre. Conversei com o Pedro (atual Presidente do CL, foi da diretoria 2009 comigo) e ele me perguntou: "eaí, como tu te sente frente à perspectiva de ficar por aí mais um ano?". "Éééé, bom, é bastante tempo, mas passa rápido, etc. e tal", respondi. Depois, fiquei pensando nisso, pensando em como eu me sentia diante desse fato (sobre o qual eu não tinha parado pra pensar ainda) e cheguei à conclusão de que acho que vou encarar esse tempo numa boa, sem maiores traumas e a melhor estratégia pra isso é colocar na cabeça o seguinte: pelos próximos quatorze meses, Cracóvia vai ser a minha cidade e a Polônia, o meu país. Pronto, simples assim.


É meio que uma espécie de alinhamento de expectativas comigo mesmo, saca? Acho que se eu estivesse aqui ad infinitum, sem uma data certa pra finalizar essa etapa, seria tudo bem mais difícil, ainda mais pra mim que sou o mestre de me antecipar às coisas, heheheh...talvez role um mestrado na Europa depois do intercâmbio? Talvez, quem sabe? Mas essa é oooutra história...

Falo por mim e por boa parte da galera que veio comigo pela AIESEC, sei que aos poucos tu vai desenvolvendo um carinho pelo país e pela cidade, sabe? Eu ainda hoje fico meio bobo quando caminho pelo centro de Cracóvia e vejo os prédios históricos, as igrejas, o Castelo, a margem do rio, o carinha que toca corneta TODA hora cheia do alto da torre da Basílica da Praça Principal...é bom continuar mantendo esse olhar de turista em relação à cidade, mesmo sendo um morador.

Pelo fato de a rotina semanal ser apertada, quase não temos tempo pra desfrutar da cidade durante a semana...por um lado isso não é tão bom, mas por outro, faz que, quando podemos fazer isso, esses momentos sejam muito mais valorizados, como sábado passado, quando eu, Luís, Tasinha e a Dê (vulgo Denisão, hehehe...) ficamos lagarteando na grama às margens do rio Vístula, com vista pro Castelo e talz...bem bom!


Acho que faltou isso enquanto eu tava no Brasil, tem tantos lugares, mesmo no RS, que eu não conheço e que são sensacionais mas que, por estar perto, o cara não dá valor...

Essa coisa de meio que vestir a camisa do país é tão verdade que, quando alguém fala mal da Polônia eu fico até meio de cara...no dia do enterro do presidente, quando encontramos aquela repórter da Record na rua e ela fez uma matéria com o Pedrão e com o Gabriel, ela ficava falando que "o povo era mal educado, que a Polônia nem parecia Europa, que Londres era isso, aquilo" (por sinal, atitude típica de brasileiro deslumbrado com o Primeiro Mundo) fiquei olhando pra cara dela e pensando: essa deve ser daquelas patricinhas que só conhece o-que-todo-mundo-conhece aqui na Europa e só tira fotos dos lugares pra postar no Orkut/Facebook. Tadinha, senta lá!

Enquanto isso, episódios com muita emoção e curtição, sponsored by...Deutsche Bank, Passion to Perform (humpf, sei...), que quase me fez infartar de domingo pra segunda. Foi má ó mêno assinhó:

Sexta, dia 7, tiro um extrato e constato que tenho ainda uma boa quantia de grana pra passar o mês, sussa. Domingo, tento comprar uma passagem de trem e sacar dinheiro e não consigo por "saldo insuficiente". O.o como assim? Tirei meu extrato de novo e vejo que tem na minha conta...59 PLN (pouco mais de R$ 30,00)!!! =O O meu dinheiro simplesmente evaporou da minha conta, de um dia pro outro!!! Fui ao banco com o cu na mão segunda de manhã e, depois de muito falar com a moçoila que atende lá e com o tiozinho do helpdesk, constatou-se que o banco simplesmente debitou DUAS vezes o saque que eu fiz semana passada pra pagar o aluguel (ou seja, um valor considerável). Fiz uma cara de bunda e solicitei encarecidamente que esse dinheiro fosse estornado ONTEM, pois 59 PLN mal pagam meu almoços na Shell...como ironizou o Doug, vai ver que eles queriam usar o meu dinheiro pra ajudar à Grécia, heheheh...sei que estornaram o valor e ficou tudo certo...bancos, só muda o país, mas a eficiência é a mesma. ¬¬

No mais, zuzo béin. Indo pra Budapeste sexta visitar o Gutão! =D Fico até segunda...previsão de chuva, mas nada que uma capa-fashion-comprada-do-indiano-em-Roma não ajude a resolver, hehehe...

Aulas de polonês: indo...não sei pra onde, mas indo, hahahah! Jesus, a cada aula me sinto mais analfa, que língua difícer, sô! Por enquanto, fiquem com essa: co to jest? (tzo to iêst = o que é isto?). variante: kto jest? (quem é aquele?). Posso até perguntar "o que é isto" ou "quem é aquele"...o problema vai ser entender a resposta, hauhuahuahue!